quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

távola redonda?



Você não leu o texto todo, ou que preste, e é a responsável por sistematizar o conteúdo para os colegas que não tiveram acesso a relíquia de 1934 que se desfaz ao simples toque humano. Ela jamais resistiria à uma maquina de xerox.

Ok, você está lascada de verde e amarelo. O seu professor é a sumidade no assunto e sempre se surpreende com  o fato de não conhecermos nada de literatura, nunca termos separado aquela fortuna do CNPq pra conhecer o egito, a mongólia, a martinica, o haiti, o suriname nem termos ouvido falar de 1/5 dos autores de 1893 e os mais recentes também... que não vai perder o tempo dele falando de museus... da Itália, do louvre, de nova iorque, da biblioteca de munique,  que nós nunca fomos... dos filmes que não assistimos... "tá vendo como vocês naufragam nas coisas?"... bachelard? traga-o fichado na próxima aula. 

"gente, eu não faço de propósito, vocês que são ignorantes...  não querem estudar, não falam nenhuma língua que preste, não gostam de viajar... porque na minha época..." e você ouve né?fazer o que? fica um pouco constrangida, ensaia aquele sorriso amarelo em cumplicidade com os colegas, e aceita as acusações fundadas, sem o "in".

é uma metodologia de ensino para além de paulo freire, 
vamos aproximá-la de augusto dos anjos.

É isso que te espera: humilhação pública.

São 14:00 e a apresentação são às 18:00. Não deu tempo de você ler todas as notas de rodapé... sim! é isso que ele vai te cobrar... os autores das entrelinhas!!!!

Vá com uma roupa sóbria, aquela blusa de botão que te transforma numa garota séria instantaneamente é uma boa pedida, com poucas florzinhas por favor, nada de usar aquela de pano de calcinha. 




Chegue cedo, converse com os colegas, culpe os correios por não ter tido acesso ao texto antes... (diga isso somente aos colegas!) e aceite a sua condição, aceitar faz parte do processo de auto conhecimento.

Não comece o texto se desculpando, apresente-o com calma e dignidade, sem gírias, mas não force a barra no coloquial, finja intimidade entre você e o autor, conte alguma fofoca dele daquela época... mas de leve, não vulgarize o seu colega que nasceu em 1883... e por fim, esboce alguma curiosidade genuína pelo texto que você leu... essa dica é boa!

Contratempos aparecerão... você não anotou a página exata que aparece, UMA ÚNICA VEZ, sobre aquele indiano que fez uma pesquisa na austrália... que o professor cismou em dizer que era o ponto crucial do texto, sendo que o teor do livro é sobre negros no Brasil... ¬¬

Fique tranquila, mostre interesse pelo questionamento absurdo do doutor. finja procurar naquelas páginas amarelas, corroídas e soltas do livro de 323 páginas de traça, que você não pôde marcar com o seu marca texto verde limão... fique folheando o livro até alguém perguntar alguma coisa... torça pra ele se entreter com aquilo e te esquecer por alguns minutos, daí você discretamente fecha o livro, fica  prestando atenção na explicação e muda de assunto na primeira oportunidade! 

Se a sumidade consentir com o que você tá falando, dando sorrisinhos de monalisa ou sinais com a cabeça de que você não tá falando merda... você já percorreu a metade do caminho, mas não cante vitória antes da hora nem se anime pra fazer uma piadinha, você será logo advertido pela falta de profissionalismo, se os colegas copiarem algo que você disser... aí é o céu! meus parabéns! Você conseguiu.





2 comentários:

  1. Natasha: você está na trilha certa, não se deixe amedrontar pela ebulição dos eruditos. Meu professor de literatura, o velho Sigfried, nos lia trechos de Bachelard. Encontrei um que parece dirigido ao seu episódio, sublinhado no livro amarelado que ainda conservo:

    "Quando apresentado à cultura científica, o espírito jamais é jovem. É inclusive velho demais, pois tem a idade de seus preconceitos" (Bachelard, A Formação do Espírito Científico)

    No mais, não me consta que Bachelard desprezasse as blusas de pano de calcinha...

    Atte.,
    Mr Hide

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  2. Mr. Hide,

    esse livro foi o último que ganhei no meu aniversário. sem dedicatória. especial é pouco pra defini-lo.

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