domingo, 18 de agosto de 2013

pureza e perigo: o corpo é pouco

ameba


(...)

Peste bubônica

Câncer, pneumonia

Raiva, rubéola

Tuberculose e anemia

Rancor, cisticercose

Caxumba, difteria

Encefalite, faringite
Gripe e leucemia...
E o pulso ainda pulsa
E o pulso ainda pulsa
Hepatite, escarlatina
Estupidez, paralisia
Toxoplasmose, sarampo
Esquizofrenia
Úlcera, trombose
Coqueluche, hipocondria
Sífilis, ciúmes
Asma, cleptomania...
Reumatismo, raquitismo
Cistite, disritmia
Hérnia, pediculose
Tétano, hipocrisia
Brucelose, febre tifóide
Arteriosclerose, miopia
Catapora, culpa, cárie
Cãibra, lepra, afasia...
O pulso ainda pulsa
E o corpo ainda é pouco
Ainda pulsa
Ainda é pouco
(...)
Titãs, O pulso.

Dia desses almocei no INPA... e sempre o imagino como minha mini Manaus num mundo ideal: estou falando do bosqueado lindo que tem por lá. o almoço foi bom e tinha uns saquinhos tentadores de DOCE DE LEITE (!!!!) com a data de validade a.c. e expostas a poeira, baratas, ratos e tudo que a sua imaginação permitir... arrisco dizer que eles foram os culpados.

náusea, dores de cabeça, dores abdominais.

primeira suspeita: é o calor;
segunda suspeita: tô grávida;
terceira suspeita: infecção intestinal.

fui no meu SPA favorito, levar a tia Bia que estava com dores absurdas nas costas e aproveitei pra fazer umas perguntinhas ao google, digo, ao médico do plantão.

depois de fazer aqueles exames constrangedores, veio o diagnóstico:
ataque violento de ameba e outros amiguinhos.

- toma annita.
- aquele que o xixi fica da cor de marca texto?
- esse.


foram quatro dias de muita dor e cocô líquido, obviamente. o meu emocional oscilava entre "chega, vou me entregar, não dá mais pra viver desse jeito... vou mudar de vida, nunca mais como porcaria, vou estudar mais, inclusive doar umas roupas, organizar os textos, ler mais, vou qualificar, chega de enrolação... vou morrer, não aguento mais... essa bipolaridade linda durou um tempo.

entre um delírio e outro, assumi uma reflexão mais holística e pensei que essa semana de confinamento e dor, poderia ser um sinal de um processo/ritual de purificação, limpeza... de repente, tudo pareceu fazer sentido!

Todos os protozoários, pessoas, sentimentos (...) que um dia habitaram em mim, estavam se retirando devido a dolorosa eficácia de annita... em outras palavras, "eu caguei você".

Mary Douglas é a autora do livro Pureza e perigo: ensaios sobre noções de poluição e tabu (1966), onde analisou diversos rituais considerando os conceitos de pureza e perigo como um meio para pensar a estrutura social. todos piram no Levítico.




O texto explica que no século XIX as religiões primitivas se diferenciavam das grandes religiões do mundo com base na ideia de que as primeiras são inspiradas pelo medo e estão inextricavelmente misturadas com as noções de impureza e de higiene. 

A relação de impureza está totalmente ligada com a desordem e é disso que eu tô falando minha gente! CHEGA! 

fui tentar fundamentar toda minha doidice de Monica Geller, nas teorias de higiene - ordem - desordem do mundo - mas, minha amiga Mary me sugeriu calma e selecionou alguns pensamentos interessantes para o dia de hoje, vejamos:


"a impureza, que é normalmente destrutiva, pode se tornar criadora, transformadora"

"A busca pela pureza desemboca em contradições. Ex: pureza sexual: a ausência total de contato entre os sexos, não só nega a própria sexualidade, como, literalmente, leva à esterilidade."

"Sempre que impomos à nossa existência um modelo rigoroso de pureza, tornamo-la terrivelmente desconfortável; e se formos até às últimas consequências, desembocamos em contradições ou até na hipocrisia"


Mary Douglas fofinha <3

Querida Mary, 

até que para um domingo, você nos propõe excelentes reflexões.

grata por tudo,

Natasha.














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