Era uma vez uma menina que só queria beber, dançar e tomar banho de rio. Depois de entregar um texto escabroso, que lhe tomou tempo e energia do seu pobre miolinho cinzento, decidiu que iria sair
para comemorar.
Subtraindo o banho de rio, lhe sobrava os dois não menos
favoritos: beber e dançar.
Pegou qualquer saia, qualquer blusa e decidiu
que a partir daquele dia iria ser minimalista, a fantasia de lantifundiária do
dia anterior, lhe deixou com overdose de acessórios e cores.
Chegando ao local, viu que jamais escolheria
entrar no recinto, mas naquela noite a moça decidiu não ser rabugenta, nem
falar mal dos que se encontravam naquele antro. Foi difícil, mas ela conseguiu.
Bebeu, dançou, pouco se importou.
Lá pelas tantas, um menino com cara de nerd
disfarçado, parecia estar olhando na sua direção. A menina achou divertido
tentar adivinhar se os olhares daquele rapaz com blusa de botão, meio
desengonçado, eram para ela ou não.
Sentadas numa mesa qualquer, no meio de uma
conversa efusiva cheia de mimimi’s, afetos e abraços com sua amiga querida,
ambas levantaram e resolveram dançar um hit
qualquer.
A moça, já encucada com o rapaz, assumiu sua
miopia e perguntou discretamente:
- aquele menino tá olhando pra mim?
- tá, faz tempo. (risos)
Ela o olhou e sorriu.
Sabe aquele ultimo post publicado falando do Elvis?
Pois é.
Ao perceber o seu “sim” subentendido, ele veio como um
homem do velho oeste, sem timidez e obstinado em encontrar com aquela garota.
Não disse uma palavra e a tirou para dançar.
Ao perceber a mão da moça displicente sobre o seu
ombro, ele rapidamente a arrumou para que ela dançasse e o abraçasse ao
mesmo tempo. Ela pensou: Old school! sorriu baixinho.
Decidido, percebeu que o local oferecia pouco
espaço e a levou para perto do palco.
- Vocë é daqui?
¬¬
Pensou: tava
bom demais pra ser verdade, começou o show de horror.
- sim. Respondeu secamente.
- e o que você faz?
Pensou: era só o que faltava explicar o que era
antropologia na altura do campeonato e ter que lidar com as abobrinhas que
sairiam depois: dá dinheiro? É tipo psicologia né? Ah, mas tu vai dar aula? E
em Manaus dá pra estudar isso?
- Ela respirou fundo e disse calmamente, eu
faço mestrado em antropologia...
- sério? Eu sou apaixonado por antropologia,
fiz economia mas adoro antropologia e...
Até aí tudo bem, ela achou fofo, afinal, na
conquista e na guerra vale tudo. Com o intuito de colocar o cidadão numa prateleira bibliográfica, as duas referências de "economia" daquela garota eram: sua comadre Dani, menção honrosa em economia solidária e o Paul Singer, aquele velhinho que ela conheceu no Fórum Social Mundial-Belém. Ela não tinha o que temer.
Ele continuou efusivo e soltou um
Malinowski no meio da conversa pouco audível, em função do barulho do palco.
A moça olhou profundamente para aquele ser que mencionou
o pai do seu blog e disse:
- vem cá, eu preciso conversar com você.
Ele não tinha ideia no que estava se metendo.
Por sorte, neste local que não lembro o nome
havia um espaço arejado, pouco movimentado...
e com pouco barulho, maravilha!
No meio daquela conversinha pré-pegação... ele
solta: fiz uma disciplina com a marta amoroso e minha irmã trabalha com direito
indígena.
Ah gente, o que que é isso né?
Tiro a queima roupa.
Ele não sabe, mas naquele momento a moça o
beijou por uma planta.
Vou explicar:
No início do ano estive no mesmo campo de
pesquisa da marta amoroso, num trabalho de dez/quinze dias, não lembro, na
aldeia piranha, com os Mura. Lá eu me apaixonei por uma plantinha, a buchudinha. Uma gracinha sabe? Ela tem
uma flor vermelha na ponta, e é de fato buchudinha! Hahahaahah
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Aldeia Piranha, abril, 2013. |
No meio do levar ou não levar pra casa, decidi
não levar. Sim, eu não estou nem aí para os crimes de biopirataria e desde
sempre levo carocinho de fruta pra casa, a saber, tenho um limão e uma pitanga
(baianos) super fortinhos num vaso. Rá!
Era meu primeiro dia entre os Mura, não queria ser
acusada de sair arrancando e levando plantas por aí né? Vai saber.
Conversando com Luzia, uma das moradoras da
aldeia, ela falou da pesquisadora Marta... que gostava muito de sua companhia,
que iam pescar juntas e por muitas vezes, escrevia na sua casa, junto com sua
família. Eram amigas :) ...
No meio da conversa, comentei sobre a
buchudinha, que tinha achado linda... Luiza logo mencionou que a Marta havia
levado uma pra casa e que na ultima vez que esteve na aldeia, mostrou a foto de
como ela estava crescida.
<3
Me derreti né gente? Desde esse dia, a
buchudinha me uniu com a marta e passei a ser tiete dessa mulher.
*
Em casa, no meio de uma crise de tristeza, saí
obstinadamente comprando um monte de vaso e terra preta, eu precisava plantar
alguma coisa e aquilo tava pirando a minha cabeça.
Pintei alguns vasos, arrumei
a terra e fui atrás das plantas.
Na floricultura, comprei dois pés de
mosquitinhos e umas plantas genéricas de decoração pra colocar na lateral da
casa da minha irmã. Não mencionei, mas havia comprado um vaso de barro grande e
bonito pelo preço/pechincha de R$ 25,00... e fiquei HORAS pensando no que levar
para plantar nele.
Lá estava ela... olhei fixamente para a
buchudinha, mas não consegui levar pra casa, ela era especial demais pra eu
comprar naquela loja sem graça, o vaso continua vazio.
*
Depois dessa excelente introdução pré-amasso do
rapaz em questão, naquele momento, era só ele manter a linha do simples, doce e
legal que tudo daria certo.
*
Mas e aí?
Fizeram juras de amor eterno e ele voltou pra
casa.
Fim.