sábado, 18 de janeiro de 2014

azul é a cor mais quente, Manaus




gostaria de falar de um momento político/histórico do cinema manaura:


vou pegar a fala do querido marquinho:

"O produtor audiovisual Marcos Tupinambá, por sua vez, avalia que já existe suficiente demanda para a exibição de filmes de arte na cidade. Ele cita o público fiel do Amazonas Film Festival, o aumento da produção audiovisual e a atividade constante de cineclubes como indicadores de um mercado consumidor com potencial."


jornal "A crítica", 04.01.2014

Um outro fator importante foram os apelos na internet (facebook) "por uma sala de cinema de arte em Manaus". nem queira problematizar o que é "cinema de arte" nesse momento, entre na luta política e tenha  o direito de assistir filmes ucranianos ou da alta birmânia numa salinha especial com pessoas exibidinhas que usam óculos de acetato e tem aulas de francês. Vamos torcer que a tal da sala seja tombada pelo IPHAN, faço votos que seja um prédio histórico bem lindo.

O filme "azul é a cor mais quente" nas telas de Manaus é fruto desse processo que ainda ferve.

A sala de cinema daquele shopping, prestes a desabar, lotou e faltou espaço pra tanta gente, ótimo! 



que fique claro, críticos de arte/cinema deveriam morrer todos juntinhos, num lugar todo especial ardendo no mármore do inferno. arte é sensação, você é o único que sabe o que ela faz. esqueça os pedantes de plantão, aproveite as sensações e discussões, só.

dito isso, proponho discutir pontos interessantes que o delicioso filme de Abdellatif Kechiche nos faz sentir.

Adèle Exarchopoulos, Abdellatif e Léa Seydoux
Inicialmente, as fantásticas cena de sexo, a ausência de trilha sonora pros momentos de tensão e a simplicidade da protagonista é o ponto alto! pegando o gancho da fala da Isa em resposta ao podcast do cinema em cena:


Devo discordar dos meninos quando falam que a cenas de sexo entre mulheres é considerado bonito, como sendo algo positivo. O que acontece é que casais de mulheres praticamente só recebem dois tratamentos: ou confinadas a uma relação doméstica, de amizade, praticamente assexuada (que é meio o que acontece no citado Minhas Mães e Meu Pai) ou uma relação fetichizada para o olhar do homem heterossexual. 

Dentro do primeiro tipo de representação temos outro exemplo em As Horas: Clarissa e sua namorada aparecem quase como duas senhoras amigas. Aliás, no mesmo filme oculta-se a bissexualidade de Virginia Woolf, que mantinha um casamento aberto com seu marido e por anos teve um relacionamento com a escritora Vita Sackville-West. 


O mesmo acontece em A Cor Púrpura: enquanto no livro o processo de criação de autonomia, agência e voz de Celie passa pela sua longa relação com Shug, que envolve diversas descobertas sexuais, no filme ambas são apenas amigas. (Isabel)

Sem contar "tomates verdes fritos"!

eu tenho muita sorte de ter a Isa na minha vida, sério.

além de descolar capinhas pro computador de grátis e me esbaldar em comidinhas naturebas, ela me ensinou a piratear filmes na internet! \o/ independência é tudo na vida de uma garota, nada de se submeter a propostas-sexo-casual pra você assistir os filmes fora do circuito. escrúpulos é tudo! (mas vez ou outra perca-os, vidas secas só combina com literatura) 

depois de assistir o filme, corri pra ler esse artigo da Sônia sobre "corporalidade e desejo" que a Isa menciona no comentário do podcast, queria alcançar a teoria queer, mas cheguei em pontos importantes, como o "ocultamento do corpo"ou de uma "corporalidade pública", por exemplo...

*

Infelizmente a Isa tem razão e este filme sofre de um dos confinamentos: o sexo entre as duas é muito "bonito" e TALVEZ caia  na armadilha "relação fetichizada para o olhar do homem heterossexual"... tenho que pensar mais a respeito.

No entanto, no quesito relação "assexuada", o filme enfrenta e ganha em disparada!

*

Pra quem ainda acredita no ruído froidiano de que a mulher sofre de uma "ausência peniana"ou tudo que uma mulher precisa é de uma "piroca", assista. o mundo precisa de amor, isso sim. você cairá do cavalo e desejará loucamente ter uma mulher daquelas. meninos: aprendam com quem sabe, "decorem" algumas coisas, a humanidade agradece.

apesar desta cena ser carregada de polêmica:

"Adèle Exarchopoulos afirmou que “a maioria das pessoas seria bem mais respeitosa e nem arriscaria pedir as coisas que ele [Abdellatif Kechiche] pediu. Normalmente, uma atriz é tranquilizada quando faz cenas de sexo, que são coreografadas”. 

Já Léa Seydoux preferiu falar de outro momento problemático da produção: “A parte em que nos encontramos pela primeira vez tem 30 segundos de duração, mas a gente passou o dia inteiro filmando. Foram mais de 100takes. Quando nós rimos sem querer depois de fazer a mesma coisa durante horas, ele [Kechiche] ficou louco e atirou um pequeno monitor no meio da rua, gritando que não conseguia trabalhar naquelas condições”. No final da entrevista, as duas afirmaram que nunca mais trabalharão com o diretor."

Ignore as críticas e deixe-se seduzir pelo filme.

A cena dos primeiros encontros e beijos das duas é impressionante, você abstrai o fato delas serem "meninas"e joga prum outro plano... é irrelevante o fato de ser mulher, homem, velho, novo, podia ser qualquer coisa. 

É uma lindeza quando as cores dos olhos e cabelos ficam em evidência com a pele, o sol, o verde do lugar que elas estão... é bonito demais.

Preciso dedicar alguma leitura sobre "teoria queer"! não sei necas de catibiriba e me recuso a copiar e colar alguma coisa da wikipédia, hoje resolvi ter critérios. hahahahaha só hoje.

Uma outra coisa interessante é a crítica ao "mundo intelectual francês" que a gente aprende a pagar pau desde cedo em contra ponto aos desejos e aspirações de Adele, que decide ser professora do maternal e alfabetização, a diferença entre as duas famílias também é um ponto bacana pra reflexão. Há a cena memorável entre a comparação de Sartre com Bob Marley, curti muito!

Pontos pra quem entendeu uma frase inteira do filme sem precisar de legenda: "petite pute"e "excuse moi, un cafe sil vous plait". parabéns! hahahahaha

A comida e a obsessão do cineasta com adele comendo, dormindo, dançando me tirou do eixo! é absurdamente sexy, simples e bonito essa relação com o prazer, a comida, a dança, o corpo... assistiria mil vezes sob essa perspectiva... sem contar a "literatura" que fez um prelúdio do primeiro olhar trocado com a "menina de cabelo azul"... lindo! 

Fico com a advertência de que independente com quem você se relaciona, a dominação, o machismo e a "invisibilidade" do outro é algo impressionante, dedique-se a observar as toneladas de louça lavada (literalmente), os tipos de xingamento (puta, vagabunda) e imposição dos seus anseios sobre o outro (você é infeliz sendo professora) podem levar.

acho que é isso, vale muito assistir... tire as crianças e as latas de conserva da sala, o filme pega fogo!








2 comentários:

  1. http://oglobo.globo.com/cultura/conteudo-de-azul-a-cor-mais-quente-dificulta-lancamento-em-blu-ray-no-brasil-11705611

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