quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

redes, barcos e intelectuais de meia tigela

Hoje vou escrever sobre sobre a possibilidade de cura deste mal que corrói a alma: a preguiça.

Não falarei de uma cura stricto, proponho uma cura lato, qual seja, a preguiça de ler e escrever... as demais, cultive-as, chega um momento de nossas vidas que é só o que temos. 

Deusulivre de perder a sua priguicinha gostosa diária, tenho certeza que é lá que mora a felicidade, bem vizinha do ócio. 

"fulano passou o dia coçando o saco", essa frase é hipotética e cabe nas classificações hostis sobre alguém... mas de uma coisa tenha certeza, independente de quem seja fulano, ele é um cara de sorte e feliz. 

No entanto, como você é uma pessoa de ambições infinitas, que não aceita ser sucursal (essa palavra aprendi hoje) saiba que é possível driblar uma das espécies de preguiça que mais tem gerado transtornos na sua vida ultimamente: a preguiça de ler e escrever.

Diante dos primeiros sintomas, arrume uma mochila, separe aqueles livros que você julga importante, mas por favor, tenha critérios. 

lembre-se de costurar a alça e alguns bolsos da sua

Separe poucas mudas de roupa, eu disse POUCAS. aquela frescurada gostosa de tomar banho pra você nunca esquecer que é uma diva em qualquer circunstância... os remedinhos salva-vidas, seus óculos, o caderninho verde limão (o menor), vulgo diário, alguns lápis e canetas.

Munida deste equipamento de guerra contra esta doença que está atrapalhando sua vida, vá a "Manaus Moderna", aquele espaço fantástico que você viciou e encasquetou (é lá que tudo acontece!!!) e compre suas passagens de barco recreio com destinho "Manaus - qualquer lugar". O importante é você se manter sobre o rio Amazonas. 

Empresa: golfinho do mar II, volta de Santarém, rio Amazonas, jan. 2014.

É impressionante a quantidade de coisas que você irá ler no fundo daquela rede!

dormir. acordar. ler. dormir. acordar. ler. dormir. tirar fotos. ler. conversar. escrever. ler. dormir. comer. tomar banho. ler. dormir. ler. dormir. ler. dormir. escrever. ler. dormir. comer. comer. dormir. ler. dormir.

Em menos de um mês, nesse ritmo, você destrói e constrói o mundo, revisa toda a bibliografia do seu mestrado, escreve e pensa sobre mil tipos de pegações e sacanagens, cultiva os pensamentos mais promíscuos à serem realizados num futuro próximo (favor levar um livro BOM com essa finalidade) e com otimismo, você até rascunha o projeto do seu doutorado!

Você irá se tornar uma intelectual das águas, nenhuma novidade no mundo antropológico, Koch Grunberg, Alexandre Rodrigues Ferreira, Ermanno Stradelli, Curt Nimuendajú (...) morreriam de orgulho... é puro luxo você se aproximar dos "modos de fazer" dos primeiros viajantes e da etnologia clássica, um charme só!

Tire auto retrato lendo naquele mosaico apaixonante de cores e tecidos e publique nas redes sociais, sucesso total!

Empresa: Amazon Star, ida para Santarém, dez, 2013.
"dica para se tornar popular no instagram e demais redes sociais" 

O barco não te isola do mundo, ele te proporciona uma outra experiência que eu não sei explicar. um barco não é uma ilha, nem uma biblioteca... e toda aquela paisagem móvel de barrancos, boizinhos, casinhas, cerquinhas, árvores, canteiros, plantações de macaxeiras, mandiocas, bananas, telhados de zinco, de palha,  telhados coloridos, açaizeiros caneludos, antenas parabólicas, caixas d'água, carcaças de canoas, milharais, malhadeiras, varandas e girais que multiplicam vidas, varal de roupas coloridas que enfeitam as casinhas distantes lembrando as amadas e memoráveis festas juninas na sua casa, boi preto, boi branco, boi marrom, podem ser vacas... o barquinho  tá rápido e não consigo ver os chifres (UFA! antes vaca do que boi), igrejas, escolas, postes, fios de alta tensão, campinhos de futebol, uma moça que varre a varanda, o banheiro separado da casa, os meninos e meninas que pulam no furo/igarapé, o homem vestido de azul que monta o cavalo e guia os bois, a mulher que saiu da roça com uma bacia vermelha nas mãos, a árvore caída no barranco, o barquinho lotado cheio sorrisos, redes e mãos acenando... os pássaros brancos, pretos, amarelos, coloridos que voam na altura da sua rede... ai, ai, ai.

rio Amazonas, janeiro, 2014


Toda essa paisagem móvel, vista do fundo da sua rede, te convida a pensar sobre esse outro planeta, que durante muito tempo você o ignorou, sabe-se lá porque.

Aguarde, arrume e segure a munição... não atire agora, foco na dissertação.


Sugiro as agencias que fomentam pesquisas no país, CNPq, FAPEAM, CAPES, Fundação Ford (...) a viabilizar recursos aos pesquisadores que estão em treinamento, vulgo, pobres pós-graduandos sedentos por viagens de barco... a fim de concluir suas dissertações, falo muitíssimo sério.



"Façam alguma coisa na vida de vocês! peguem um avião, vão pra Iquitos, desçam até Manaus de barco, façam algo! escrevam! não entendo qual o problema de vocês, tem pouca leitura! nenhuma visão crítica de nada! ao menos vão viajar, conheçam alguma coisa!"

então tá né?

Presente do fim do dia:

rio Negro, janeiro, 2014


É muito difícil não comprometer o olhar pelo tamanho desse rio,
por esse(s) por do sol mais lindo do mundo...


amazonas moreno, raízes caboclas.






domingo, 19 de janeiro de 2014

ansiedade

The great war, René Magritte, 1964


tem uns dias que aconteceu uma coisa bem importante na gavetinha do profissional sabe?

eu recebi "a notícia" com um certo impacto, mas confiante. nem sei explicar como foi isso, em outros carnavais eu peidaria na farofa, mas dessa vez foi diferente. ouvi desconfiada mas pensei: 

isso foi feito pra mim, sou foda, vai dar certíssimo.

A saber: tenho uma dissertação para concluir até março, impreterivelmente. bibliotecas, me aguardem.

Para algumas pessoas pode ser uma besteira, mas pra mim eu considero uma grande mudança... e assim, a minha opinião é o que importa nesse momento. heheheheheh

Acontece que toda a minha sensação de "sou foda" tá indo pras cucuias diante da minha ansiedade cada vez maior para uma reunião/encontro marcado por esses dias, as minhas roupas de pano de calcinha não me convencem mais, nem as fantasias de escritório pseudo advogada gatinha. entrei no limbo da frescura, melhor, no limbo do figurino. 

Não sei se solto o cabelo, se deixo preso, se uso decote, saia, vestido ou calça, se uso colar, brinco ou pulseira, nem se os acessórios serão de metal ou orgânicos (!!!). haja saco pra me aguentar. mas acho que essa frescurada pode ser algo bem simbólico... talvez eu esteja num processo de liminaridade que eu ainda não saquei qual é, mas isso é uma questão de tempo.

Eu tinha decidido não escrever sobre essa sensação... mas já percebi que a escrita por aqui tem uma certa agência/poderes mágicos sabe? algo que está crescendo, estou aprendendo... difícil explicar, quer dizer, não vou explicar... rs. talvez justifique o meu acordar súbito e a doidice de esvaziar no Natasha.   

Sigo fichando loucamente o que interessa e decorando alguns números absurdos para um possível questionamento vexatório. 

beijos e sorte né?

:)

feliz é pouco.

peixinhos, beijinhos, carinho




sábado, 18 de janeiro de 2014

azul é a cor mais quente, Manaus




gostaria de falar de um momento político/histórico do cinema manaura:


vou pegar a fala do querido marquinho:

"O produtor audiovisual Marcos Tupinambá, por sua vez, avalia que já existe suficiente demanda para a exibição de filmes de arte na cidade. Ele cita o público fiel do Amazonas Film Festival, o aumento da produção audiovisual e a atividade constante de cineclubes como indicadores de um mercado consumidor com potencial."


jornal "A crítica", 04.01.2014

Um outro fator importante foram os apelos na internet (facebook) "por uma sala de cinema de arte em Manaus". nem queira problematizar o que é "cinema de arte" nesse momento, entre na luta política e tenha  o direito de assistir filmes ucranianos ou da alta birmânia numa salinha especial com pessoas exibidinhas que usam óculos de acetato e tem aulas de francês. Vamos torcer que a tal da sala seja tombada pelo IPHAN, faço votos que seja um prédio histórico bem lindo.

O filme "azul é a cor mais quente" nas telas de Manaus é fruto desse processo que ainda ferve.

A sala de cinema daquele shopping, prestes a desabar, lotou e faltou espaço pra tanta gente, ótimo! 



que fique claro, críticos de arte/cinema deveriam morrer todos juntinhos, num lugar todo especial ardendo no mármore do inferno. arte é sensação, você é o único que sabe o que ela faz. esqueça os pedantes de plantão, aproveite as sensações e discussões, só.

dito isso, proponho discutir pontos interessantes que o delicioso filme de Abdellatif Kechiche nos faz sentir.

Adèle Exarchopoulos, Abdellatif e Léa Seydoux
Inicialmente, as fantásticas cena de sexo, a ausência de trilha sonora pros momentos de tensão e a simplicidade da protagonista é o ponto alto! pegando o gancho da fala da Isa em resposta ao podcast do cinema em cena:


Devo discordar dos meninos quando falam que a cenas de sexo entre mulheres é considerado bonito, como sendo algo positivo. O que acontece é que casais de mulheres praticamente só recebem dois tratamentos: ou confinadas a uma relação doméstica, de amizade, praticamente assexuada (que é meio o que acontece no citado Minhas Mães e Meu Pai) ou uma relação fetichizada para o olhar do homem heterossexual. 

Dentro do primeiro tipo de representação temos outro exemplo em As Horas: Clarissa e sua namorada aparecem quase como duas senhoras amigas. Aliás, no mesmo filme oculta-se a bissexualidade de Virginia Woolf, que mantinha um casamento aberto com seu marido e por anos teve um relacionamento com a escritora Vita Sackville-West. 


O mesmo acontece em A Cor Púrpura: enquanto no livro o processo de criação de autonomia, agência e voz de Celie passa pela sua longa relação com Shug, que envolve diversas descobertas sexuais, no filme ambas são apenas amigas. (Isabel)

Sem contar "tomates verdes fritos"!

eu tenho muita sorte de ter a Isa na minha vida, sério.

além de descolar capinhas pro computador de grátis e me esbaldar em comidinhas naturebas, ela me ensinou a piratear filmes na internet! \o/ independência é tudo na vida de uma garota, nada de se submeter a propostas-sexo-casual pra você assistir os filmes fora do circuito. escrúpulos é tudo! (mas vez ou outra perca-os, vidas secas só combina com literatura) 

depois de assistir o filme, corri pra ler esse artigo da Sônia sobre "corporalidade e desejo" que a Isa menciona no comentário do podcast, queria alcançar a teoria queer, mas cheguei em pontos importantes, como o "ocultamento do corpo"ou de uma "corporalidade pública", por exemplo...

*

Infelizmente a Isa tem razão e este filme sofre de um dos confinamentos: o sexo entre as duas é muito "bonito" e TALVEZ caia  na armadilha "relação fetichizada para o olhar do homem heterossexual"... tenho que pensar mais a respeito.

No entanto, no quesito relação "assexuada", o filme enfrenta e ganha em disparada!

*

Pra quem ainda acredita no ruído froidiano de que a mulher sofre de uma "ausência peniana"ou tudo que uma mulher precisa é de uma "piroca", assista. o mundo precisa de amor, isso sim. você cairá do cavalo e desejará loucamente ter uma mulher daquelas. meninos: aprendam com quem sabe, "decorem" algumas coisas, a humanidade agradece.

apesar desta cena ser carregada de polêmica:

"Adèle Exarchopoulos afirmou que “a maioria das pessoas seria bem mais respeitosa e nem arriscaria pedir as coisas que ele [Abdellatif Kechiche] pediu. Normalmente, uma atriz é tranquilizada quando faz cenas de sexo, que são coreografadas”. 

Já Léa Seydoux preferiu falar de outro momento problemático da produção: “A parte em que nos encontramos pela primeira vez tem 30 segundos de duração, mas a gente passou o dia inteiro filmando. Foram mais de 100takes. Quando nós rimos sem querer depois de fazer a mesma coisa durante horas, ele [Kechiche] ficou louco e atirou um pequeno monitor no meio da rua, gritando que não conseguia trabalhar naquelas condições”. No final da entrevista, as duas afirmaram que nunca mais trabalharão com o diretor."

Ignore as críticas e deixe-se seduzir pelo filme.

A cena dos primeiros encontros e beijos das duas é impressionante, você abstrai o fato delas serem "meninas"e joga prum outro plano... é irrelevante o fato de ser mulher, homem, velho, novo, podia ser qualquer coisa. 

É uma lindeza quando as cores dos olhos e cabelos ficam em evidência com a pele, o sol, o verde do lugar que elas estão... é bonito demais.

Preciso dedicar alguma leitura sobre "teoria queer"! não sei necas de catibiriba e me recuso a copiar e colar alguma coisa da wikipédia, hoje resolvi ter critérios. hahahahaha só hoje.

Uma outra coisa interessante é a crítica ao "mundo intelectual francês" que a gente aprende a pagar pau desde cedo em contra ponto aos desejos e aspirações de Adele, que decide ser professora do maternal e alfabetização, a diferença entre as duas famílias também é um ponto bacana pra reflexão. Há a cena memorável entre a comparação de Sartre com Bob Marley, curti muito!

Pontos pra quem entendeu uma frase inteira do filme sem precisar de legenda: "petite pute"e "excuse moi, un cafe sil vous plait". parabéns! hahahahaha

A comida e a obsessão do cineasta com adele comendo, dormindo, dançando me tirou do eixo! é absurdamente sexy, simples e bonito essa relação com o prazer, a comida, a dança, o corpo... assistiria mil vezes sob essa perspectiva... sem contar a "literatura" que fez um prelúdio do primeiro olhar trocado com a "menina de cabelo azul"... lindo! 

Fico com a advertência de que independente com quem você se relaciona, a dominação, o machismo e a "invisibilidade" do outro é algo impressionante, dedique-se a observar as toneladas de louça lavada (literalmente), os tipos de xingamento (puta, vagabunda) e imposição dos seus anseios sobre o outro (você é infeliz sendo professora) podem levar.

acho que é isso, vale muito assistir... tire as crianças e as latas de conserva da sala, o filme pega fogo!








quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Muito além do peso, Estela Renner.


L'enfant gras, Modigliani, 1915

documentário velhinho (rs), mas iniciei a noite lendo uma revista e topei com um artigo do Ricardo Manini falando sobre ele. não deu pra resistir! dá pra pensar tanta coisa, tanta coisa, tanta coisa (!)... economia, política, povos indígenas, saúde, doença, meio ambiente, agricultura familiar, feiras, manaus moderna, demarcação, terras indígenas, guerras mundiais, naturebice, comidinhas... ai! bom filminho :)

Em homenagem a dor no peito que eu senti quando vi minha afilhada tomando danoninho pela primeira vez: 

Documentário: muito além do peso, 2012.

Jack e Meg

não vou falar do white stripes, nem do show que eles fizeram em manaus no teatro amazonas em 2005.

Meg e Jack
vou falar de um casal de biólogos que os adotou.

explico.

Jack e Meg são um casal de ferret's adotados por este simpático casal, genial!

Daniel atualmente é perito, Waleska defendeu sua tese recentemente sobre mamíferos aquáticos, os botos: "O boto vermelho nos rios madeira, mamoré e guaporé: distribuição, evolução e estrutura populacional".

Mas em algum momento das suas vidas, se depararam com essas criaturinhas em laboratório:



Os ferret's são, de alguma forma, um tipo de ratinho, ahhh eles parecem muito! e foram criados como filhos por este casal. vejo com muita ternura a dedicação, os vídeos compartilhados, as fotos, a humanidade que eles atribuem a estes ratos de laboratório resgatados. que simbólico!

Jack morreu por esses dias e fico impressionada com a quantidade de carinho e pesar que seus "pais" demonstraram...


"Dook" é uma palavra que não tem tradução para o português, mas é uma vocalização bem discreta dos furões, quase uma risadinha que eles raramente fazem quando estão muito agitados, brincando alegremente. Os "ferret lovers" costumam dizer então "Dook In Peace" ao invés de "Rest In Peace" quando seus furecos partem. D.I.P. Jack! (dani dutra)

*
Só pra dizer que Wal e Dani são lindos :)

Manaus, 2005


0:55 - rodrigo aparece no fuzuê de  gente, ainda não nos conhecíamos!

Fui idiota/cagona, fiquei no camarote, perdi 80% da emoção do show.

A secretaria de cultura (SEC) nunca mais abriu as portas para um show deste porte, a banda e os fãs foram acusados de deteriorar o patrimônio público. 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

santarém e o barco recreio: histórias de amadores

balsa amarela, manaus moderna, rio negro, 2013.

- comprei passagem aérea para alter do chão (Santarém) de R$ 180,00 ida e volta;
- sério?! vou procurar! :D

(...)

não se iluda.

Esse diálogo é um clássico da frustração Manauara. aceite: você nunca irá encontrar tais passagens por tal valor... e se você faz parte do grupo que se acha constantemente violentado com os preços das passagens aéreas e nutre um ódio profundo por esses indivíduos "antenados/iluminados"... saiba que você pode encontrar um lugar ao sol mesmo na lisura e pão durice.

A maior bacia fluvial do planeta encontra-se no quintal da sua casa! Espalhe aos quatro ventos que você NÃO quer ir a Alter do Chão de avião por questões ideológicas... nunca pelo bolso! e que seria bem mais interessante mergulhar nessa viagem nos deliciosos barcos recreios que transportam um zilhão de pessoas e mercadorias diariamente nessas gigantescas estradas de rio. (prometo diminuir os adjetivos megalomaníacos, com o tempo)

*

Ao comprar as passagens de barco, a maravilhosa Vanusa nos avisou que deveríamos chegar cedo, umas 5:00, 6:00 da manhã para pegarmos lugar na área com ar-condicionado no barco, ela acrescentou que ficava no "segundo andar".

Uma das integrantes da equipe nos advertiu: 
"não vai lá! pessoas vomitam, peidam, cagam, fica um cheiro horroroso".

ok, dica anotada.

Acontece que após a ceia de natal, mesmo sem ter organizado sua mochila e sabendo que viajaria no dia seguinte, você decidiu dormir... pensou: "coloco para despertar as 4:00"

4:00, ai tá cedo, 4:30, só mais um pouquinho... vou levar pouca coisa mesmo, 5:00, ah, levo dois vestidos e dois biquínis, tá bom... 6:00, só vou com a roupa do corpo, lá vejo alguma coisa pra usar, só levo minha rede... 6:30, PUTZ, tô atrasada! o barco vai lotar! apesar do atraso, não esqueça os livros pra você pagar de intelectual no barco, puro luxo. 

Em resumo: chegamos as 8:00 no barco e a cena era um mix de arca de noé, titanic e caos. trocentas milhões de pessoas com as suas redes atadas, algumas tinham ido na noite anterior para garantir o "seu lugar".

Ao descartar a "área com ar-condicionado" não só pelos possíveis cheiros, mas principalmente por critérios de: observação da paisagem, ventinho na cara, solzinho gostoso... e obviamente MEDIDAS DE SEGURANÇA! gente, se o barco vira, eu quero ter a chance de pular e nadar pra beira sabe? não faz sentido eu ficar trancafiada num "aquário"diante de tanto custo benefício... sem contar a rotatividade de vírus que circula nesses ambientes "climatizados"! era demais pro seu pobre miolinho que naquele momento já estava fumaçando de ódio e fome. 


Chegando no terceiro andar do barco, apesar do som ensurdecedor de uma música que você não gosta, já fomos nos enxirindo para armar a rede... eis que aparece o "dono do barco"e diz delicadamente: 

- aqui é o bar, só pode subir se o barco lotar.

esqueça as aulas de direito do consumidor que você assistiu, argumentos não adiantaram. descemos. quis chorar quando aquela ideia gostosa de viajar pelos rios balançando na rede, lendo um livro, com ventinho na cara foram tomados pelo caos, tumulto e um emaranhado de redes presos num "aquário"que me impossibilitaram, inclusive, de ter acesso à vista do rio e florestinhas que compõem a paisagem. 

o detalhe é que depois que o "atador oficial"encontra um local, você deve pular na sua rede e ficar por lá até o barco sair, as 10:00.

ah, a notícia ruim é que ele vai atrasar DUAS HORAS, só sairá ao MEIO DIA o bonitão. Enquanto isso o barco vai enchendo de gente... e é aí que entra a finalidade de você estar deitada na sua rede igual uma barata arreganhada. 

Aquilo ali é uma luta "velada"por território, vou explicar:

A organização das redes é marcada por uma informalidade absurda, onde diversas vezes pude ouvir:

- Aqui não! não tem espaço!

Me senti numa área de retomada, igual aos Tupinambá de Olivença, enquanto estratégia para garantir seu direito à terra. experimente sair, vão atar rede em cima da sua cabeça!

O espaço é negociado tanto através do enfrentamento quanto da cordialidade, sendo esta última um tanto rara nesses primeiros momentos. entenda as regras, não é pessoal. 

Segundo o querido Jonatham, cantor de funk gospel que deitou uma rede depois da minha, disse que o "melhor lugar de rede" são as pontas do meio.

"você fica no ventinho e as pessoas não ficam pegando em você, isso é chato".

fique no solzinho amarelo, é perto das janelas e longe dos banheiros.
(tô com uma leve dúvida se esse pseudo fica no plural, favor ignorar, será um saco corrigir)

Note que Natasha ficou no meio, no miolo, sem janela, no "não fique aqui". mas calma. 

Após a negociação de "lugar da rede" você começa a perceber que faz parte de um coletivo no barco, onde pequenos movimentos em longínquas extremidades reverberam em você. corpos apenas de toalha, carinhosamente batizado de "o tarado da toalha" a dois palmos da sua cara, crianças correndo embaixo da sua rede, sorrisos bêbados e maliciosos na sua direção, o calor absurdo, o barco que não sai, a sua mochila que compartilha o mesmo espaço com outras dezenas... esqueça a ideia de "propriedade privada".

A imposição de fé cega no desconhecido que irá dormir ao seu lado sugerem uma intimidade tão brutal que a resposta vinha na desconfiança e a ansiedade cada vez maior naquela espera interminável. 

você mergulhou num mar de gente. literalmente. até asfixia psicológica você sente.

parecia os primeiros sintomas de uma reação alucinógena experimentada recentemente... aproveite e faça o mesmo esquema: feche os olhos, concentre na respiração, se acalme.

substituí a bolacha de motor/defunto pelos meus "biscoitos de biblioteca", comi alguns chocolates.

Bolacha de motor
dormi, acordei, dormi, acordei, dormi, acordei, dormi, acordei. peguei um dos livros que eu trouxe, dormi, acordei, dormi, dormi, acordei, dormi, acordei, comecei a ler. era o "cidade ilhada"do milton hatoum.



"A natureza é o que há de mais misterioso..." pg. 99

parei, pensei... fiquei um tempo quieta ali com aquela frase na cabeça... ouvi alguém me chamando:

- vem ver o encontro das águas! olha que lindo! 

aquile convite não te seduziu de nenhuma forma, amazônia não é só paisagem, o mistério não está na floresta ou nos rios... tá nesse mutueiro de gente e rede aqui, não quero saber de paisagem! 


*

ok, abra uma exceção para o por do sol! hahahahahahah

por favor não resista! saia da rede! rio amazonas, dezembro, 2013.


ADVERTÊNCIAS: será difícil sair da rede. tanto exotismo, frescura e essencialismo as vezes enche o saco... faça um exercício e não se torne um turista babaca. barcos recreios te proporcionam experiências viscerais, incríveis. vou me manter nessa rede-olho-do-furacão até o final da viagem... é impressionante o que se vê daqui e por aqui... arrisco dizer que o ser humano é o que há de mais misterioso... adorei!

Sigo construindo minhas verdades provisórias... dicas de como tomar banho no barco e se manter uma diva do rio Amazonas no próximo texto. 







sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

CERPA: Uma cerveja para chamar de sua.

gostar de ficar bêbada, não é o mesmo que gostar de álcool... há uma grande diferença.

por temer virar motivo de chacota, beba saquê com qualquer fruta escondido ou vinhos baratos... e pra sociedade em geral, tome cerveja (a pulso, aquilo é amargo demais!) pra parecer interessante, inteligente, pseudo-esquerda, descolada e atraente: viva de aparências... e fique bêbada, simples.

Mas o fato é que você se amarra numa sobremesa alcoólica, 
apesar de te deixar enjoada inúmeras vezes.

Recentemente, na comemoração da Isa, me foi apresentado uma coisa muito vergonha alheia: capirinha de fruta com picolé mergulhado dentro... céus! em outras palavras, é um sucão de "festa infantil", regado de cuspe e álcool, nada que você já não tenha provado na vida, de outras maneiras claro. 


vende na cachaçaria do Dedé

a saber, estou falando do caxiri.

Bebida fermentada à base de macaxeira e, em alguns casos,
com a ajuda de enzimas presentes na saliva humana. 

Em defesa da gororoba com picolé em questão, Manaus é quente e a coisa refresca, pontos.

No entanto, no dia da minha qualificação, confraternizei com os queridos num restaurante-gostoso-caro-peixe-tucupi-delícia que servia CERPA. alguém já ouviu falar?



Nesse dia, eu finalmente encontrei uma bebida pra chamar de minha, essa belezura aí, diretamente de Belém do Pará. :D sim, você é uma exibida metida a besta! alguém já provou? ai, ai, ai... que gostosa! e você vai ficando bebinho de uma forma legal sabe? sem dar sono... amei!



o único problema é que ela não é encontrada em lugar algum! 
NENHUM BAR DO UNIVERSO (Manaus) VENDE ESSA BELEZOCA! ódio.

cavalo manco, banda calypso.


"isso e muito mais você

só vai encontrar no Paráaa"



Só se for... sigo a busca nos supermercados mais próximos... ainda não obtive êxito, por favor, não me façam ir naquela praga do Roma. 



INFERNO: windows 8

"O Windows 8 é um sistema operacional da Microsoft que, depois do sucesso do Windows 7, ficou ainda mais funcional e prático. Faça o download agora mesmo e deixe o seu computador moderno e eficiente"



Eu acho que a cara de pau não tem limits... sinceramente.

Quem inventou essa bosta, deveria morrer lentamente e arder em sete eternidades no fundo do inferno... 

aquele bando de quadradinho sem sentido aparece quando você está bem tranquila batendo os dedos no teclado, de repente tudo some e vem aquela tela incompreensível, iniciar não existe, daí dá um pequeno bloqueio no seu cérebro até você perceber que tem de usar o teclado e mirar na área de trabalho... porque é apenas de lá que você consegue visualizar onde está. foto? vídeo? áudio? paint? tive que começar do zero... e ainda apanho MUITO pra manusear com tranquilidade.

ai! me perdi, me achei, me perdi, me achei... e assim você vai vivendo... nutrindo um ódio profundo pelo seu computador que não tem nada a ver com a historia... 

pra quem ainda tem esperança:





quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

casa das caldeiras

a trapezista do circo

arreeeeia!


as feridas
os jardins
a pressão
e o motor!





modo de usar: aumente o volume, decore a letra, simule que um orixá baixou em você... até isso acontecer. esses som é de pirar!

obs: não tem uma versão que preste na internet, essa é a melhor: mas não consegui postar, clique no link!

BEM VINDO 2014!!!!!!!!





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