sábado, 23 de maio de 2015

Moedores de carne humana



Nuvens densas, escuras, pesadas, cheia de cores que brincam entre o cinza clarinho e o negro do Rio Negro. Três palavras pairam, como nuvens pré temporal, na cabeça dos manauaras essa semana: bicicleta, homem e ônibus.

A pessoa que inventou um lugar chamado cidade, deve ter sido um louco varrido, um louco tão louco que só sendo louco pra ter inventado um negócio desse. Mais louco foi aquele que aceitou e vibrou com a ideia. Puxa saco de uma figa! Devia ser proibido esse tipo de gente no mundo. Na verdade, à época, quem discordou do nascimento da cidade, foi chamado de louco. Aposto. Devia ter votação pra acabar com essa porcaria. 

(   ) Sou a favor da cidade, da palmeira imperial, da morte aos periquitos irritantes, da piscina com cloro, do asfalto, da calçada com cerâmica, do condomínio, do ônibus, do mendigo, da sujeira, do rio que é esgoto, da construção da ponte que matou silenciosamente, do concreto, do cimento, do tijolo, da morte por esmagamento, do caminhão cheio de louça que vira em cima da menina, da morte que transforma gente em carne moída;

( x ) Sou contra a cidade. Quero um lugar que não tenha nome, com fruta no quintal, do fumo novinho da folha de tabaco, das caminhadas  - longas e pela sombra de árvores pequenas e gigantes - da bicicleta, do rio de guaraná limpinho, da canoa, da morte doce por afogamento, da morte por cair de uma árvore e se quebrar inteiro, de ser comido por piranha, ser engolido por um jacaré ou lutado bravamente com ele, veneno, vingança, de amor, por ser picado por mil cabas, por feitiço do Alto Rio Negro. 

Por ter o corpo esmagado embaixo de um pneu, não. 

A cidade mata rápido e de forma covarde.

Cidades são moedores de carne, cidades são moedores de gente. 


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