quarta-feira, 9 de novembro de 2016

I have a nightmare*...

Martin Luther King, Jr. I have a dream* speech

No dia 08 de novembro de 2016, durante minha aula de inglês, houve a votação presidencial dos Estados Unidos. A disputa foi entre Hillary Clinton e Donald Trump. Professora Helena entregou um jornal impresso News for you, para cada um de nós, os alunos. A manchete principal era Clinton vs. Trump: Where They Stand on the Issues

O plano de aula era que discutíssemos sobre o conteúdo após a leitura. A descrição dos candidatos era a seguinte:

Clinton has been working in politics most of her adult life. She was first lady of Arkansas when her husband was governor of the state. She was first lady of the U.S. when Bill Clinton served as a U.S. senator from New York. Her most recent role was as the nation's secretary of state. That was during President Barack Obama's first term. 

Trump is not a politician. He is a New York businessman. He owns hotels, clubs, and buildings around the word. He also was on a TV reality show. He says business skills will make our government work better. He says they also will help him  work with world leaders. 

O texto do jornal seguia com os seguintes tópicos: The U.S. and the World; Trade; The Economy; Health Care; Education




Recentemente, um time de basebol, esporte muito popular entre os americanos do norte, ganhou um campeonato "mundial" após 108 anos de amargura. O Chicago Cubs venceu o World Series. Na época do Haloween, foi impossível sair de casa porque a cidade simplesmente parou durante a partida final. 

Agora vamos brincar do jogo dos sete erros. O significado de World Series, ao pé da letra, é "Séries Mundiais" certo? certo. Conversando com alguns nativos, me explicaram que o jogo é disputado entre os campeões da Liga Nacional e da Liga Americana. 

De acordo com o meu jogo de tabuleiro favorito, War: o jogo da estratégia, aprendi que o mundo está geopoliticamente dividido em seis continentes: Oceania, África, Ásia, América do Sul, América do Norte e Europa, com vários países em cada um deles. Alguns classificam o mundo em sete continentes [Antártida]. Pra encerrar essa discussão, uma pessoa sensata escreveu que "não existe uma única forma de fixar o número de continentes e depende de cada área cultural determinar se duas grandes massas de terra unidas formam um ou dois continentes". 

Um saudoso beijinho na minha comadre Mara que amava chacoalhar a porra do
mundo quando estava perdendo! hahaahahah quem nunca?

War da minha infância

Certo dia, papai apareceu com esse jogo para aquele bando de meninas ávidas por novidade e uma boa arenga. Inicialmente, eles [papai e mamãe] leram o manual, explicaram pra mim e Lissinha [Julinha nem era nascida] e jogamos a primeira partida juntos. Havia também, umas cartinhas que você tirava e lia para que os seus objetivos fossem alcançados até o final da partida. Parecia um joguinho legal e inofensivo...  

Na manhã seguinte, eu e minha irmã espalhamos a novidade para nossos tios, tias, primas e primos. Um bando de marginais manauras que iam conquistar o mundo estava formado: Mara, Fábio, Bia, Silvis, Vivi, Waguinho, Su, Lissinha, Ítalo e eu. Queríamos sangue, ódio, arenga, baixaria. E assim o foi. Na primeira rodada, descobri que o mais estratégico era conquistar a Oceania. Era pequeno, discreto, e uma fonte inesgotável de soldados vermelhos. A Austrália ficava isolada e as duas ilhotas me permitiam ter um início estratégico pra dominar a Ásia inteira... que triunfo era esse continente amarelinho...

Os jogos começavam. Os dois dados eram lançados:

Primeira rodada: seis, seis! pensamento: vou ganhar essa caralhada toda e vou destruir o exército verde. 
Bando: sua cagada! vai já perder, nem canta vitória.

Segunda rodada: seis, cinco! pensamento: tô indo bem, se eu conquistar a América do Sul serão duas fontes de exércitos vermelhos.  
Bando: silêncio.

Terceira rodada: um, dois! pensamento: puta que pariu! FUDEU!  
Bando: KAKAKAKAKAKAKKAKA [hienas] parece que o jogo virou não é mesmo? Tem alguém com medinho aqui? [risada coletiva e estrondosa] VAI PERDER! VAI PERDER! VAI PERDER!

Eu: NÃO VOU PERDER MERDA NENHUMA, E SE EU PERDER NINGUÉM MAIS JOGA [150 decibéis]. 
Bando: VAI PERDER! VAI PERDER! VAI PERDER! [220 decibéis]
Minha irmã: VAI TODO MUNDO JOGAR SIM, PORQUE O JOGO NÃO É TEU! [250 decibéis]
Bando: CHORA! CHORA! CHORA! CHORA! CHORA! [350 decibéis]

Eu: silêncio, sangue nos olhos, fogo nas ventas, uma lágrima de sangue escorreu: ninguém viu.

Quarta rodada: um, um! 
Bando: A BANANA PERDEU!!!!! [RISADA COLETIVA E HISTÉRICA] CHORA! CHORA! CHORA! CHORA! CHORA! [400 decibéis]
Eu: Tudo bem gente, é normal perder, isso é um jogo  [23 decibéis]. Levantei com a delicadeza de uma princesa que caga bolinhas de brigadeiro. Puxei o tabuleiro, todos os soldados caíram e saí correndo, chorando e gritando:

EU ODEIO VOCÊS! NUNCA MAIS BRINCO COM VOCÊS, ESSE JOGO É UMA BOSTA, ODEIO, ODEIO, ODEIO!!!! VOCÊS NÃO PRESTAM, TENHO NOJO DE VOCÊS!!!! [450 decibéis]

Depois de assistir Glub glub, O chaves e o Mundo de Beakman, por umas duas horas na casa da vovó Ana [longe do território sanguinário], voltava onde as hienas estavam e dizia com a fineza de um bode: QUERO BRINCAR, AFASTA PRA EU SENTAR AÍ AGORA! [250 decibéis] 

Glub, Glub

Bando: Tá preparada pra perder de novo banana arengueira? 
Todos riam, inclusive eu: Até parece que eu vou perder pra vocês!
Bando: Espera essa rodada terminar que tu tá muito abusada, aprende com quem sabe.

Simples <3

Muitas amizades são desfeitas durante um tradicional jogo de WAR, porém o importante é que se reate a amizade depois do jogo. Muitas alianças também são criadas durante o jogo, buscando benefício para os próprios aliançados, mas logo depois são desfeitas (sem aviso prévio) normalmente pelo que está mais forte o que gera novamente a "desfazedura" das amizades." 

O terremoto é a última estratégia utilizada por jogadores que já não se veem mais em condições de vencer, ou quando se sentem injustiçados perante seus adversários. Tal jogada consiste em simular no tabuleiro um terremoto real, agitado-o o mais rápido que puder, causando efeitos catastróficos irreversíveis. É um movimento tão fatal que, em 99,83% dos casos implica em um final trágico para a partida. Apesar de seu grande poder de destruição, tal movimento apresenta alguns efeitos colaterais. [Fonte: desciclopédia]

*

Esta brincadeira nada inocente, é um fato trágico e real nesta terra que vos falo [e em outras também, inclusive o Brasil. Explorar o outro e manipular países não é uma exclusividade... ao que tudo indica]. O fato, é que o mundo não é um punhado de estados norte americanos, como este campeonato de baseball teima em afirmar. O mais bizarro ainda, pra corroborar com toda essa doidice, é existir um documento que se chama Alien registration card, uma espécie de green card temporário que te dá direito à "cidadania" e uma cambada de direitos mínimos. ALIEN! 

Não nos surpreendemos. O que impressiona é a naturalidade com o que a "política externa" norte americana vem falando e agindo sobre outros países, tal como no jogo de tabuleiro da década de 90, como se de fato fossem outros mundos, no sentido pejorativo. Voltemos ao jornal do be-a-bá: 

Clinton prefers diplomacy (dihPLOH-muh-see) [ahãm, quem não te conhece que te compre]. That means talking and creating partnerships with other nations. She thinks it is a good tool that reduces the chance of war. 

Trump wants to think about America first. That means partnerships would only be created if the U.S. gets the most benefit. Their different views could affect the fight against the Islamic State. They could also affect relationships with China and Russia. 

Alguém avisa que isso não é nenhuma novidade? Que ridículo... 

Helena relatou sobre as possibilidade reais de "imigrantes ilegais" serem expulsos do país, ou deportados, como seu pai o foi, de acordo com o seu próprio relato, erroneamente. Não houve nenhum pedido de desculpas ou ressarcimento pelo engano. 

Todos ouvíamos com atenção e preocupação.

Hoje, na Universidade que tenta ser a mais inclusiva e multiétnica de Chicago, o clima era de tristeza absoluta. Amigos se abraçavam, usavam o espaço da cozinha para comer, beber e discutir sobre o que aconteceu para que chegassem a este resultado, aparentemente, não esperado. 

Turma da Mônica, Maurício de Souza.

Uma das professoras, durante uma palestra marcada para as 14:30, ao tentar consolar alunos que choraram durante suas argumentações sobre a vitória de Trump, mencionou que deveríamos nos espelhar nas populações do norte do Brasil, por exemplo, nos povos indígenas do Amazonas, que sofreram e sofrem todo tipo de exploração e assédio continuados e ainda sobrevivem. 

Para além da retórica benevolente de países imperialistas, fico matutando sobre os significados de estar no olho desse furacão... 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

textos relacionados

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...