segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Língua and violence em chicago*

* Inspirado em Borderlands/La Frontera de Glória Anzaldua: pdf do livro:)



Last week, comecei um curso de inglês. No primeiro dia, todos fomos nos apresentando com nome e país de nascimento. A professora, Helena Rickijevic, pediu para que adivinhássemos de onde ela "era". Muitos falaram Rússia, eu chutei Polônia [entendedores entenderão o motivo rs]. Ela sorriu e disse que seu pai havia nascido na Polônia, mas ela "era"da Bósnia.

Um mapinha para os perdidos que nem eu 
Espremi o meu cérebro sobre o que eu sabia da Bósnia e só veio conflito armado e guerra. Fiquei tentando imaginar o tipo de vegetação que o país de Helena tinha, as danças, as frutas, os doces e até o tipo de casa que ela cresceu. Não veio nada: só a guerra. :/

Aos poucos, as pessoas foram se apresentando: Afeganistão, Ucrânia, Equador, Kensington, México, Nepal, China, Tailândia, Chile, Gana, Romênia e eu, do Brasil. Tomada pela empolgação instantânea, fiquei imaginando um Fórum maravilhoso, no qual nós discutíamos [juntinhos e abraçados] sobre "nossos" países e toda a experiência que cada um tinha. Desde a diversidade cultural, geográfica, AS COMIDINHAS, até os conflitos "pós-coloniais" [um posicionamento crítico, não como um período no tempo] através da história de vida de cada um... não seria maravilhoso?

O que nos traz à Illinois? O prazer de andar? Ainda não sei, sem pressa.

Fiz uma busca rápida sobre a língua de cada um dos países de meus coleguinhas de classe. Vou utilizar o critério de língua oficial... no entanto, considerando que o Brasil tem aproximadamente 150 línguas indígenas não-oficiais, tente supor a diversidade linguística dos países dos meus novos amiguinhos. Este critério "oficial"é falso, pra não dizer ridículo.

Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendaju.
Um dos mapas mais lindos do planeta.
Aqui tem o artigo falando do mapa:
http://www.etnolinguistica.org/biblio:nimuendaju-1981-mapa


[Respirando fundo] Vou continuar, só pra dizer que não falei das flores:

Afeganistão: Pachto e Dari; 
Ucrânia: Ucraniano;
Equador: Castelhano+ línguas "ameríndias";
Kensington: Francês
México: Castelhano, são reconhecidos oficialmente 68 agrupamentos linguísticos indígenas, totalizando 364 variantes. México é AMOR!
Nepal: Bantawa, Bhojpuri, Kurux, Dumi, Kusunda, Kiranti, Marwari, Mundari, Neuari, Nepali, Tharu;
China: Aini, Altai, Baima, Calmuca, Cantonês, Cazaque, Chinesa, Coreana, Lop, Min-nan, Wenzhou, Xangainês, Evenki, Gan, Hmong, Iu mien, Kim mun, Bouyei, Cham, Dong, Hacá, Hokkien, Jingpho, Ladakhi, Iahu, Naxi, Nung, Nuosu, Putian, Sarikoli, Tai Nua, Tshangla, Wa, Zhuang, Manchu, Mandarim, Min, Bei, Nan, Mongol, Nanai, Nushu, Mon Dong, Quirguiz, Salar, Pinyin, Zhuyin, Tangut, Tártara, Tuviniana, Uigur, Usbeque, Wakhi, Wu. [QUE ARRASO!!!!]
Tailândia: Hmong, Iu Mien, Khmer, Laociana, Cham, Tai Nua, Shan;
Chile: Castelhano, Huilliche, Kawésqar, Ona, Quíchua, Rapanui;
Gana: Abron, Adele, Akan, Anyin, Dagbani, Ewe, Fanti, Ga-dangme, Haúça, Kabiyé, Dagaare, More, Twi.
Romênia: Romeno.
[fonte: wikipédia ~vergonha~ é o que tem]

O livro didático oferecido para termos aulas de inglês duas vezes por semana é esse:

Observem as pessoas que estão no livro e o que estão fazendo.
A interpretação é livre <3
Ainda na semana passada, assisti a palestra "Decolonizing the Prehistory of Island Southeast Asia and Pacific" de John Edward Terrel, num dos principais Museus de História Natural de Chicago. Pra ser bem sincera, eu não tenho certeza se poderia estar assistindo essa palestra... provavelmente não. O fato é que eu assisti por ser exibidinha e entranhada. Por considerar abominável não compartilhar o que DEVE ser compartilhado, mesmo não sabendo se posso [juridicamente falando - #vidaloka] ou não, seguimos.

*

Ainda é difícil acompanhar uma palestra inteira em inglês, inclusive os debates, sem um desespero interno de saber do que as pessoas estão balançando a cabeça, rindo, ou de compreender todo o conteúdo que foi preparado para aquele momento. Passado um tempinho de pânico, lembrei das aulas e palestras que assisti na minha própria língua materna e da quantidade de vezes que não entendia bulhufas... ri sozinha e me acalmei.

John Terrell falava sobre a quantidade de línguas existentes num raio de 100 quilômetros quadrados naquelas ilhas maravilhosas da Western Melanésia, Polinésia [Oceania]. Eram aproximadamente uns setenta e cinco grupos linguísticos. Cada "vila" tem sua própria língua, seu próprio mundo e o fazem através de um cultural connection, segundo ele.

Do nada, um velhinho, bem velhinho, sentado na minha frente, perguntou o seguinte: porque tantas línguas diferentes não se "amalgamavam" [implorei pra Ana traduzir essa palavra pra mim rs] ou se fundiam? O botânico não parou por aí. Segundo ele, diversos estudos da sociologia biológica [oi?] afirmavam que na história mundial, as pequenas tribos foram se expandindo para grandes comunidades, naturalmente, e uniformizaram sua língua. Então, porque essas vilas não se amalgamavam?

Imaginei se a família Lima Barreto da etnia Tukano, do rio Tiquié, [Alto Rio Negro-Amazonas], teria a mesma opinião sobre o "naturalmente". Fiquei me perguntando o que leva a pessoa a ignorar os processos de violência que fazem parte de uma homogenização ou imposição de uma língua.

John respondeu: What's the pay off?
Ele ficou puto, alguns riram de canto de boca, ficou por isso mesmo e acabou a palestra.

Sério? Nojo de imaginar que o mundo inteiro vai falar esse dialetozinho mequetrefe. 

*

Difícil engolir a bosta desse inglês viu?

Ain't got no, I got life - Nina Simone


Ain't got no, I got life

Ain't got no home, ain't got no shoes
Ain't got no money, ain't got no class
Ain't got no skirts, ain't got no sweaters
Ain't got no perfume, ain't got no love
Ain't got no faith

Ain't got no culture
Ain't got no mother, ain't got no father
Ain't got no brother, ain't got no children
Ain't got no aunts, ain't got no uncles
Ain't got no love, ain't got no mind

Ain't got no country, ain't got no schooling
Ain't got no friends, ain't got no nothing
Ain't got no water, ain't got no air
Ain't got no smokes, ain't got no chicken

Ain't got no
Ain't got no water
Ain't got no love
Ain't got no air
Ain't got no God
Ain't got no wine
Ain't got no money
Ain't got no faith
Ain't got no God
Ain't got no love

Then what have I got
Why am I alive anyway?
Yeah, hell
What have I got
Nobody can take away

I got my hair, got my head
Got my brains, got my ears
Got my eyes, got my nose
Got my mouth
I got my
I got myself

I got my arms, got my hands
Got my fingers, got my legs
Got my feet, got my toes
Got my liver
Got my blood

I've got life
I've got lives

I've got headaches, and toothaches
And bad times too like you

I got my hair, got my head
Got my brains, got my ears
Got my eyes, got my nose
Got my mouth
I got my smile

I got my tongue, got my chin
Got my neck, got my boobs
Got my heart, got my soul
Got my back
I got my sex

I got my arms, got my hands
Got my fingers, got my legs
Got my feet, got my toes
Got my liver
Got my blood

I've got life
I've got my freedom
Ohhh
I've got life!


domingo, 16 de outubro de 2016

Brasil e Egito

Hoje falaremos de projetos que já apontavam para relações internacionais entre o Brasil e a República Árabe do Egito, esse país lindo, que só faz gente linda. Percebam as características artísticas dos efeitos especiais desta obra atemporal "Essa é a mistura do Brasil com o Egito" ou "A dança do ventre". Assim como a empatia com a cultura local que o grupo artístico, avant-garde, nos faz sentir com a sua propositura.



Considerando o artigo de Marilyn-Diva  Subject or Object: Women and the Circulation of Valuables in Highlands in New Guinea, negligenciaremos, muito a contra gosto, a discussão da mulher enquanto sujeito ou objeto. Não vamos considerar a apresentação performática do homem de alcunha jacaré, pois ele não é vítima da canção, digo, não é citado nas estrofes do grupo É o tchan

Sentimento imprevisto: Marilyn errou. Não tem essa putaria de relativizar essa porra toda com exemplo lá das New Guiné não. Aqui o bagulho é claro, essa aberração é ultrajante! morte ao cuzão do califa!

Então, como eu ia dizendo, esta canção, incluindo o clipe, é uma saudação ao corpo da mulher cis e a sua forma de expressão em estado "pleno" através da dança. O estímulo provocado por esta potência, é homenageado por diversas vezes nas estrofes bem elaboradas. Este grupo, considerado Patrimônio da Cultura Brasileira, formou gerações que dispensaram ajuda psicológica-profissional no quesito pegação. A naturalidade com que estas técnicas corporais foram inseridas no seu cotidiano, dispensaram qualquer aula de C.F.B. [Ciência, Física e Biológica]. 

Tá aí gringo-land: chupa que é de uva. 


Dança do ventre, É o Tchan


textos relacionados

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...