segunda-feira, 28 de abril de 2014

macho e fêmea




Thaís Gulin

o campo e a pedagogia

Nunca teve qualquer vocação para ser professora, ficar enfurnada numa sala de aula ensinando um bando de pirralho maluvido e respondão o be a bá e as malditas vogais, lhe dava arrepios só de pensar.

Carrossel não cumpriu o seu papel na infância, síndrome de professorinha Helena? nem pensar! só faria sentido na esfera do fetiche...

Professora Helena, Carrossel.

Acontece que ela passou a viajar, colocava na mochila uma rede, poucos livros finos e alguns cadernos. A "manaus moderna" passou a ser o seu local favorito de circulação... 

Antes de "embarcar", comprava um saco de estopa por dois reais, 6 litros de água, por sugestão dos medrosos, duas palmas de banana... ah... a banana é uma coisa linda: macia, cheia de massinha gostosa, evita de você ficar com câimbras (ótimas antes da pegação) e já vem com embalagem, nem precisa lavar! uma beleza!

Aí vai os critérios de escolha de uma pseudo viajante de barco... mal sabia ela que tudo mudaria de lugar:

Laranja? pode manchar, é muito ácida e não levou faca. 
Manga? Vai se sujar muito, manga lambuza tudo.
Goiaba? é mais saborosa que maçã, mas a primeira tá muito verde, pode prender... melhor não. Numa outra viagem penso melhor sobre as frutas. 

Fonte: goiaba gatona, campo, Japurá (2014)


A vontade que dá é de comprar um peixe e um monte de verdurinha... o problema é que não dá pra fazer no barco... e como eu vou levar esse peixe? e vai escorrer pela sacola... credo! não! muita mão de obra.

Uma outra ideia, seria adotar a prática da marília... das sopinhas ensacadas, o problema é que seria acusada de muita frescura e ninguém me respeitaria no barco. Ah, posso levar castanhas! descascadas né? 

Passado o momento frescural reflexivo sobre os critérios alimentares, subiu no barco com sua sacola recheada de frutinhas e água... ok, confesso: alguns cup noodles nojentinhos, nunca se sabe.


Depois do sufoco "atar rede", se espichou de felicidade ao conquistar seu mini território.
Daí, do alto da sua rede, passou a ler "Urupês, de Monteiro Lobato"... foi com toda sede do mundo, achando que ia encontrar um texto facinho, afinal, o cara é pai da turminha do sítio... nada a temer.

pausa.

frustração total! D-I-F-I-C-Í-L-I-M-O, travou no primeiro conto, "que merda!"exclamou. "pior que só trouxe esse para diversão..." ela disse. leu um, dois, três contos... chegava no final e tinha a sensação que não entendia... tentava lembrar do início e aquelas palavras não faziam sentido... ela foi direto no que a interessava. 

O último conto, de 1914, falava do Jeca Tatu, "foda-se", ela pensou. "vou ler esse direto", completou.

Leu, curtiu. 

Mas custou acreditar que aquele rebelde pensava realmente aquilo, suspeitou que ele estava zoando com Silvio Romero... ou com os intelectuais da época que acreditavam num Brasil doente.

"está provado que tens no sangue e nas tripas um jardim zoológico da pior espécie. é essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte. tens culpa disso? claro que não".

retiro o que disse, nunca me senti tão parecida com o jeca quanto hoje. 

*

Por não ter outro livro, vaidade, exibicionismo, orgulho, decidiu ler o resto. 
O exemplo de osmose, daquele antigo livro de ciências que misturava o café com o leite, permeava seus pensamentos... haveria de ter uma chance...

Finalmente elegeu um favorito! "boca torta"! esse conto é sensacional!!! :D

Mas no âmago do seu ser, sabia que teria de ler novamente, se possível, em um grupo de terapia, digo, de curiosos em literatura sob a tutoria de um especialista. De amadorismo já bastavam os seus palpites.

*

Entre um conto e outro, saía da rede para tomar um "ar" e observar  o rio Solimões e a beira mais de perto... passou a identificar as plantações... banana era a mais fácil, mandioca e macaxeira precisariam de um olhar mais atento... mas com um pouco de treino ficaria uma expert! açaí e milho não ficavam atrás, aquilo estava fácil demais... 

milho cozido, bolo, canjica, mingau, macaxeira cozida, bolo, pé de moleque, farinha, tapioca, banana frita, cozida, bolo, mingau, farofa, recheio de pão, pudim de açaí, sorvete, céus... em pouco tempo, Alex Atala sentiria inveja de você.  Um banquete estava montado, até o sabor você já sentia.

No meio daquelas casinhas na beira do rio, uma delas, quando tinha, sempre se destacava... uma instituição que você aprendeu a desconfiar... "escola".

E pela primeira vez na vida, ela se imaginou sendo professora.

Teria uma roça com todas as plantinhas que lhe desse na telha e que era duramente proibida na cidade: 
"suja e a raiz quebra fossa e calçada, nem pensar!", alguns diriam.

Lá ela seria livre e faria banquetes infinitos, igual na "festa de babete"...  aquele filme que todo mundo odiou.



O sonho estava ok, mas ela não fez pedagogia... e se recusaria a alfabetizar alguém com U-V-A... ah, era só adaptar pra B-U-R-I-T-I, aí sim...

Pensou melhor e descobriu que não tinha nada pra ensinar... leu Paulo Freire uma vez na vida, só porque na época, estava apaixonada por um professor de biologia anarquista. 

Pensou em vídeo aulas, poderia decorá-las... mas aquilo pareceu fajuto demais... ela fazia mestrado e não sabia dar aulas... aquilo a deprimiu.

Resolveu deitar na rede e ouvir música enquanto seus anfitriões tiravam uma soneca. Ouviu uma das suas músicas favoritas do Chico e resolveu que faria ditados!

Ditados é um clássico! Ditado é perfeito! pensou.

Decidiu que seria uma professora de ditados... depois de ler as palavras e as coisas, percebeu que poderia pintar e bordar com aquele novo ofício.


Pegou sua versão emprestada e viu a moldura do texto de Foucault cheia de rabisco, descobriu que ali morava a saudade... 

passou pelo capítulo I e sentiu orgulho ao lembrar da leitura de "las meninas" em "prática de pesquisa", seguiu direto e parou no sono antropológico... faria sentido, mas sentiu preguiça de procurar uma citação, seus olhos encheram de lágrimas ao ver aquele esforço na compreensão do texto. sua cabeça doeu, o coração suspirou e decidiu fechar o livro, acrescentou sua xerox.

De maneira geral, Michel estudou de forma ampla e criteriosa a mudança interior em "nossa cultura" do séc. XVIII ao séc. XIX através da gramática geral... é aí que ela quer atacar, através dos ditados! inventaria significados mirabolantes até não querer mais.

Medo - capacidade de enfrentar algo muito difícil
Impossível - combustível para se conseguir algo, vale pra medo também
Governo  - forma arcaica/errônea de gerir vidas
Amor - escapar de um lugar.. (essa eu colei do Mia Couto)
Embriagados - eternos sonhadores
Mutilados - pessoas que geralmente sentem muitas saudades
Meretrizes - mulheres sábias
Riso - ir no céu e voltar
(...)

Na sala de aula diria: "vamos lá queridos, hoje ditarei o que será? (flor da terra)"


flor da terra







sagrado x profano

O Nascimento de Vênus de Sandro Botticelli (1486)

Sagrado: 
A palavra "sagrado" provém do latim sacrum, que se referia aos deuses ou a alguma coisa em seu poder. Foi geralmente concebido especialmente, como referindo-se à área em torno de um templo. Já o termo santo vem de sanctus, significando "que tem caráter sagrado, augusto, venerando, inviolável, respeitável, purificador". (fonte: wiki)

Profano: 

é a putaria no geral. (fonte: Natasha)

Esse mundo é uma bosta, um caos danado e eu só quero dançar, me divertir e terminar minha dissertação.

Deixo a complexidade com os pedantes de plantão.

Conversinhas promíscuas e papinhos sobre miolos de pote é o que há de melhor.

Viva Mary Douglas!
Fico com o ventinho do perigo.

"Sempre que impomos à nossa existência um modelo rigoroso de pureza, tornamo-la terrivelmente desconfortável; e se formos até às últimas consequências, desembocamos em contradições ou até na hipocrisia" (Mary Douglas)


Kylie Minogue, all the lovers, melhor, 

o "surubão da Kylie".




quinta-feira, 24 de abril de 2014

ghost dances


o corpo é incrível... não canso de me surpreender. 


ghost dances, lindo.


Dissertação, diário de uma detenta


Cavei um buraco e estou dentro dele nesse exato momento.
Quanto mais eu cavo, mais fundo ele fica e é cada vez mais difícil de sair, obviamente...

Seria uma vida sem jeito?
O trabalho dissertativo seria uma prisão?

Sorte que a malandragem, ou a perspicácia de um detento, te faz perceber que por se tratar de um cárcere, o buraco não pode ser só um buraco... trata-se de um túnel meus caros... surpresos? pois é! eu também!

Pra quem necessitava de cápsulas de otimismo, aí vai uma.

Mas é o seguinte, amanhã passa o efeito do placebo, agilidade na colher que a água tá na canela.

Racionais, diário de um detento.


"Manaus, dia 24 de abril de 2014, as 02:33 da manhã
Aqui estou, mais um dia
Sob o olhar sanguinário do vigia
Você não sabe como é escrever com a cabeça na mira de uma BAN-CÁ
Metralhadora FAPEAM ou CNPq
Estraçalha bolsista que nem papel
Na muralha, em pé, mais um professor doutor
Servindo o Estado, um orientador bom
(...)
Ele sabe o que eu desejo
Sabe o que eu penso
O dia tá chuvoso. O clima tá tenso
Vários tentaram fugir, eu também quero
Mas de um a cem, a minha chance é zero
Será que o doutor ouviu minha oração?
Será que o orientador aceitou a prorrogação?
Mando um recado lá pro meu irmão:
Se tiver usando ABNT droga, tá ruim na minha mão
...
Pode crer, estudante gente fina
Tirei um dia a menos ou um dia a mais, sei lá
Tanto faz, os dias são iguais
Acendo um cigarro, e vejo o dia passar
Mato uma página pra ela não me matar
Mato o tempo pra ele não me matar
Homem é homem, mulher é mulher
Membro da banca é diferente, né?
Dá soco toda hora, tapa e beija os pés pra aliviar
Sangra até morrer no PPGAS!
Cada escrito uma lauda, um capítulo
Cada capítulo uma crítica
Cada crítica um motivo, uma história de lágrima
Sangue, vidas e glórias, abandono, mesquinharia, ódio.
sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo
Misture bem essa química
pronto: eis um novo pós-graduando
Lamentos no corredor, na sala de reunião, no computador
Ao redor do trabalho de campo, em todos os cantos
Mas eu conheço o sistema, meu irmão, hã
Aqui não tem santo
Rátátátá preciso evitar
Que um safado faça o trabalho por mim
Minha palavra de honra me protege
pra viver no país das saias floridas
Tic, tac, ainda é 02:53
O relógio da coordenação, anda com meu pescoço na mão
Ratatatá, mais um ofício vai passar
Com gente de bem, retardada, "artista"
Vendo série/filmes, satisfeita, hipócrita
Com raiva por dentro, a caminho do centro
Olhando pra cá, curiosos, é lógico
Não, não é não, não é zoológico
Minha vida não tem tanto valor
Quanto seu celular, seu computador
Hoje, tá difícil, não saiu o sol
Hoje não tem visita, não tem pegação
Alguns companheiros têm a mente mais fraca
Não suportam o tédio, arrumam babacas
Graças ao carnaval e à trilha sambista
Falta só uma semana, três dias umas horas
Tem um HD lá em cima fechado
Desde terça-feira ninguém abre pra nada
Só o cheiro de gravação e maldição
Um pesquisador se enforcou com o fio do fone e a caneta na mão
Qual que foi? Quem sabe? Não conta
...
Nada deixa um antropólogo mais doente
Que a solidão da transcrição
Aí moleque, me diz: então, cê qué o quê?
A seleção tá esperando você
Pega todos os seus artigos aprovados
Seu currículo lattes e limpa o rabo
A vida acadêmica é sem futuro
Já ouviu falar de PHd?
Que veio do Collège com diploma
Um dia no barco recreio, não ele é só mais um
comendo rango azedo com pneumonia
Aqui tem os mano da etnografia, Manaus, Belém, Benjamin Constant,
Porto Nacional, Blumenau, Viçosa, Conceição do Araguaia...
Pesquisador sangue bom tem moral na quebrada
Mas pro doutorado é só uma região e mais nada
Vários PPGAS, quantos selecionados?
Veja a nota da CAPES de cada.
Na última coleta, o fulaninho veio aí
Trouxe uns formulários :P
(...)
ESSA MÚSICA NÃO TEM FIM?

Eu quero mudar, eu quero sair,
...
De madrugada eu senti um calafrio
Não era do vento, não era do frio
Correção do texto tem quase todo dia
Tem transcrição logo mais, eu sabia
Malandragem é tudo que o orientando tem
Conseguir terminar o texto, de forma violenta
Se o computador sacanear alguém
leva pro HD e salva o resto também
Fumaça no sistema, mudou o tema?
Fudeu! foi além! tem refém, é você!
Na maioria, se deixou envolver pelo campo
Por um papo que não tinha nada a perder
Dois nativos* considerados passaram a discutir
Mas não imaginavam o que estaria por vir
Teorias, militâncias, influências
Uma maioria de grupo de pesquisa arrogante
Era a brecha que o diplomado queria
Avise o CNPq, chegou o grande dia
Depende do sim ou não de um só homem
Que prefere ser neutro pelo telefone
Ratatatá, tambaqui e champanhe
Eu fui almoçar, que se foda a minha tese!
Pesquisadores assumidos, publicações, reuniões
Quem tem mais publicação ganha medalha de prêmio!
O antropólogo é descartável no Brasil
Como modess usado ou bombril
Bolsa? Claro que o sistema não quis
Esconde o que a CAPES não diz
Ratatatá! Abobrinha jorra como água
Do ouvido, da boca e nariz
O meu orientador é doutor
Perdoe o que seu orientando diz
Dormiu de bruços na sauna da vez
Sem lençol, sem beber
Sem tomar banho, sem foder comer
Vai pegar uma escoliose na cadeira
Miopia é o de menos,
Aquele parágrafo final te sorri do inferno!
O prazo é frio e não sente pena
Só ódio e ri como a hiena
Ratatatá, você vai defender!
E vai nadar naquele rio de Alter,

Mas quem vai acreditar no meu depoimento?
Dia da defesa, diário de um detento.

* licença poética


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Lepo Lepo e o capitalismo selvagem


Estava em reunião com as senhoritas mais malvadas do velho oeste, quando uma delas soltou:

- Hoje estava na parada de ônibus, ali perto da fiocruz, 
e passei 45 minutos ouvindo várias versões de Lepo Lepo.

Todas, num primeiro momento, se entreolharam e fingiram não conhecer do que se tratava, pois obviamente, dizia respeito a uma música  ruído de péssimo gosto/baixo calão, que intelectual nenhum ousaria ouvir. Passa-se muito tempo lendo Nietzsche e Foucault, por exemplo...

"se ouço essas porcarias é culpa do vizinho, ô povinho sem cultura"

... ser um intelectual está cada vez mais difícil...

*

Ela, bravamente, não se intimidou: levantou da mesa, ficou de pé, cantou e fez passinho:

"Ah, eu já não sei o que fazer
Duro pé-rapado, com salário atrasado
(ahh, eu não tenho mais por onde correr)
Já fui despejado, o banco levou o meu carro"

Esse foi o primeiro refrão, mas a reflexão maior segue nos próximos:

"agora vou conversar com ela
será que ela vai me querer?
Agora vou saber a verdade
Se é dinheiro ou amor"
(ou cumplicidade)

Caro leitor, você consegue imaginar a aflição que entorpece essa alma?

Aparentemente, trata-se de uma relação heterosexual, me utilizando das categorias limitadas para classificar as relações sexuais que acontecem entre quatro paredes, ou seja, entre um homem e uma mulher. Essas referências ficam mais claras, devido a coreografia que segue a música, no entanto, achei tudo isso que escrevi uma besteira e esses comentários alargam-se para qualquer tipo de relacionamento. ponto. 

Mas seguirei no exemplo hetero porque já estou com o texto pronto na minha cabeça :P

*

Deixe sua militância um pouco de lado, admita bem rápido: homem também sofre.

E digo mais, o indivíduo que protagoniza a interessante canção, desafia a parceira(o) enfrentando todo o sistema econômico que o aprisiona como um detentor de capital e bens de consumo:

"eu não tenho carro
não tenho teto
e se ficar comigo é porque gosta
do meu 
rá rá rá rá rá rá rá
lepo lepo
é tão gostoso quando eu
rá rá rá rá rá rá rá
O lepo lepo"

Chegamos a uma breve consideração final que só temos duas saídas para o nosso querido fulano na tentativa de conquistar o coração da amada(o):

1 Dinheiro;
2 Lepo lepo.

é, não tá fácil pra ninguém...

Aproveite e deixe o corpinho em movimento com essa deliciosa coreografia (valorize os clipes nacionais).



fit dance, psirico do povão, lepo lepo.


(oficial) psirico, lepo lepo.


Sua bolsa do CNPq só dura esse mês e ter técnicas corporais no mercado da sensualidade não custa nada e vale muito... é muito capital simbólico minha gente!

Poe e a vingança

Tem um tempinho que criar novas rotinas era sua melhor especialidade... 

Tem uma recente que está até razoável. acordando em horário satisfatório, atividades físicas na vila olímpica, suquinhos naturebas, bibliotecas, a MALDIÇÃO DA TRANSCRIÇÃO - isso é coisa do demônio, sério - revisar loucamente o texto escrito e evitar encontrar qualquer ser na rua que te faça lembrar da sua escrita... isso tem funcionado, o problema é o tempo. ele anda curto e você não é uma máquina de fazer biscoitos.

Esqueci de um detalhe diário que negligenciei nesse primeiro parágrafo.

Tenho lido um conto por dia de Edgar Allan Poe, logo que acordo.

Alguns diriam: 

- você tá louca? esse cara só pensa em horror, mistério, morte...! como você começa o dia com ele?
- deprimente Natasha, muda esse disco!

Então, vou explicar como cheguei ao querido Poe.

Alguém já comentou no blog e fiquei com a pulga na orelha, fui conferir a resenha naquela versão de "guia de leitura" safada/L&PM pocket... mas que dá pro gasto... curti, ok.

Fui na modesta biblioteca que o Sr. meu pai montou para as moçoilas da casa... e ótimo! ele estava lá! tenho uma versão bem bonitinha do "histórias extraordinárias" na mão. Na empolgação, li a primeira página do conto: "a queda da casa de usher"... mas o meu estado emocional da época não me permitiu continuar... era muito prelúdio de história de terror de quinta pro meu gosto, preconceito total e foda-se, não vou ler isso.



Até que me deparei com um texto do querido Norbert Elias: "Les pêcheurs dans le Maelström".
Já não basta essa praga ser em francês? que diabos é Maelström?!

*

Hoje eu percebo o quanto aquele brinquedinho é importante...

quebra-cabeça

Fazer nota mental de brincar loucamente com a minha afilhada...

*

No início do texto de Norbert Elias, ele já explica o título... e é referente ao conto de quem? do Poe!

"Uma descida ao Maelström"... pg. 377.

Pra ser uma exibidinha completa, corri lá e li antes. DEMAIS!
adorei tanto o texto do Elias quanto o conto de Poe, a relação foi genial!!!

E aí começou a nova rotina: Poe me dá bom dia, todos os dias.

*

Agora preciso apresentar a minha mais nova melhor amiga virtual: Tatiana Feltrin :)
Esse mundo é meio triste sabe? a gente gosta tanto, se sente bff, mas a Tati nem tchum pra mim. ô mundo cruel. 

A Tati é uma devoradora de folhas escritas! ela é professora de inglês e os livros que lê é no percurso do trabalho pra casa e de casa pro trabalho... ao todo dá umas três horas... não é incrível?! PARE DE RECLAMAR ONTEM!

Ela lê cada porcaria, coitada... mas acho admirável o exercício de transformar o cérebro num músculo sedento sabe? não me peça pra ler porcaria, eu não leio. sério. já me basta os meus parágrafos! sem falsa modéstia. Já a Tati... céus! é um exemplo de boa samaritana.

Mas antes de falar da minha impressão dos poucos contos que li do Poe, vocês precisam ver esse vídeo da minha amiga Tati:

10 coisas que talvez você não saiba sobre E. A. Poe, Tatiana Feltrin.


Gente, é muita morte na vida deste homem!!!!
E aí que as coisas foram ficando mais claras no meu miolinho cinzento... 

*

Então, 

tenho passado por algumas dificuldades... dentre elas, as minhas limitações em lidar com o "fim" o "ponto final existencial"sabe? com a morte inclusive... isso tem gerado alguns transtornos que ainda enche MUITO o meu saco e tem levado rios de dinheiro do meu bolso.

A morte de alguém, se você não for um psicopata/assassino, é algo que foge totalmente do controle certo?
certo. Ninguém sabe o porque dessas merdas acontecerem. E não tem UMA versão razoável do pós morte que te conforte... uma tristeza.

Nos contos de Poe, os personagens tem o total controle sobre a morte... inclusive, ele chega a enterrá-los vivos! SENSACIONAL! 

Sabe porque?
Ele se vingou!

Vingança!
VINGANÇA!
V-I-N-G-A-N-Ç-A-!

*

Poe, meu querido... eu entendo você.

Beijos com muito carinho e admiração,

Natasha.










domingo, 13 de abril de 2014

?

- Cadê a Natasha?
- Fudida. Se sentindo culpada pelos cantos e escrevendo a dissertação nas horas vagas.
- hahahahahahaha

fim.



Chico Science e nação zumbi, da lama ao caos

terça-feira, 1 de abril de 2014

você decide!


Happy, Toulouse (cover)


Happy, Manaus (cover)


(un) Happy, Manaus (cover)

The raven (1845), Edgard Allan Poe


The Raven

Tradução: O corvo

Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of someone gently rapping, rapping at my chamber door.
"Tis some visitor," I muttered, "tapping at my chamber door;

Only this, and nothing more."

Ah, distinctly I remember, it was in the bleak December,
And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor.
Eagerly I wished the morrow; vainly I had sought to borrow
From my books surcease of sorrow, sorrow for the lost Lenore,
For the rare and radiant maiden whom the angels name Lenore,

Nameless here forevermore.

And the silken sad uncertain rustling of each purple curtain
Thrilled me---filled me with fantastic terrors never felt before;
So that now, to still the beating of my heart, I stood repeating,
"'Tis some visitor entreating entrance at my chamber door,
Some late visitor entreating entrance at my chamber door.

This it is, and nothing more."

Presently my soul grew stronger; hesitating then no longer,
"Sir," said I, "or madam, truly your forgiveness I implore;
But the fact is, I was napping, and so gently you came rapping,
And so faintly you came tapping, tapping at my chamber door,
That I scarce was sure I heard you." Here I opened wide the door;

Darkness there, and nothing more.

Deep into the darkness peering, long I stood there, wondering, fearing
Doubting, dreaming dreams no mortals ever dared to dream before;
But the silence was unbroken, and the stillness gave no token,
And the only word there spoken was the whispered word,
Lenore?, This I whispered, and an echo murmured back the word,

"Lenore!" Merely this, and nothing more.

Back into the chamber turning, all my soul within me burning,
Soon again I heard a tapping, something louder than before,
"Surely," said I, "surely, that is something at my window lattice.
Let me see, then, what thereat is, and this mystery explore.
Let my heart be still a moment, and this mystery explore.

"Tis the wind, and nothing more."

Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,
In there stepped a stately raven, of the saintly days of yore.
Not the least obeisance made he; not a minute stopped or stayed he;
But with mien of lord or lady, perched above my chamber door.
Perched upon a bust of Pallas, just above my chamber door,

Perched, and sat, and nothing more.

Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,
By the grave and stern decorum of the countenance it wore,
"Though thy crest be shorn and shaven thou," I said, "art sure no craven,
Ghastly, grim, and ancient raven, wandering from the nightly shore.
Tell me what the lordly name is on the Night's Plutonian shore."

Quoth the raven, "Nevermore."

Much I marvelled this ungainly fowl to hear discourse so plainly,
Though its answer little meaning, little relevancy bore;
For we cannot help agreeing that no living human being
Ever yet was blessed with seeing bird above his chamber door,
Bird or beast upon the sculptured bust above his chamber door,

With such name as "Nevermore."

But the raven, sitting lonely on that placid bust, spoke only
That one word, as if his soul in that one word he did outpour.
Nothing further then he uttered; not a feather then he fluttered;
Till I scarcely more than muttered,"Other friends have flown before;
On the morrow he will leave me, as my hopes have flown before."

Then the bird said,"Nevermore."

Startled at the stillness broken by reply so aptly spoken,
"Doubtless," said I, "what it utters is its only stock and store,
Caught from some unhappy master, whom unmerciful disaster
Followed fast and followed faster, till his songs one burden bore,
Till the dirges of his hope that melancholy burden bore

Of "Never nevermore."

But the raven still beguiling all my fancy into smiling,
Straight I wheeled a cushioned seat in front of bird and bust and door;,
Then, upon the velvet sinking, I betook myself to linking
Fancy unto fancy, thinking what this ominous bird of yore,
What this grim, ungainly, ghastly, gaunt, and ominous bird of yore

Meant in croaking, "Nevermore."

Thus I sat engaged in guessing, but no syllable expressing
To the fowl, whose fiery eyes now burned into my bosom's core;
This and more I sat divining, with my head at ease reclining
On the cushion's velvet lining that the lamplight gloated o'er,
But whose velvet violet lining with the lamplight gloating o'er

She shall press, ah, nevermore!

Then, methought, the air grew denser, perfumed from an unseen censer
Swung by seraphim whose footfalls tinkled on the tufted floor.
"Wretch," I cried, "thy God hath lent thee by these angels he hath
Sent thee respite---respite and nepenthe from thy memories of Lenore!
Quaff, O quaff this kind nepenthe, and forget this lost Lenore!"

Quoth the raven, "Nevermore!"

"Prophet!" said I, "thing of evil!--prophet still, if bird or devil!
Whether tempter sent, or whether tempest tossed thee here ashore,
Desolate, yet all undaunted, on this desert land enchanted
On this home by horror haunted--tell me truly, I implore:
Is there is there balm in Gilead? tell me tell me I implore!"

Quoth the raven, "Nevermore."

"Prophet!" said I, "thing of evil--prophet still, if bird or devil!
By that heaven that bends above us--by that God we both adore
Tell this soul with sorrow laden, if, within the distant Aidenn,
It shall clasp a sainted maiden, whom the angels name Lenore
Clasp a rare and radiant maiden, whom the angels name Lenore?

Quoth the raven, "Nevermore."

"Be that word our sign of parting, bird or fiend!" I shrieked, upstarting
"Get thee back into the tempest and the Night's Plutonian shore!
Leave no black plume as a token of that lie thy soul spoken!
Leave my loneliness unbroken! -- quit the bust above my door!
Take thy beak from out my heart, and take thy form from off my door!"

Quoth the raven, "Nevermore."

And the raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming.
And the lamplight o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted nevermore!


Os simpsons, o corvo (tem legendado)

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